Alimentos ultraprocessados: O problema vai além da reformulação
Um estudo publicado na revista Lancet, argumenta que a reformulação nutricional de Alimentos Ultraprocessados (AUPs) por si só não é eficaz para neutralizar os impactos negativos desses produtos na saúde.
Ademais, a indústria frequentemente propõe a reformulação como solução para as críticas aos AUPs, focando na redução de nutrientes problemáticos como sal, açúcar e gorduras saturadas. No entanto, os autores do estudo defendem que essa abordagem ignora os efeitos totais do ultraprocessamento.
A reformulação falha?
A reformulação, muitas vezes impulsionada por limites regulatórios de nutrientes, não aborda as características intrínsecas do ultraprocessamento que afetam a saúde, como:
- Matriz alimentar: O processamento intenso altera a matriz alimentar, tornando os AUPs mais facilmente digeríveis. Desse modo, essa desestruturação, juntamente com a textura macia de muitos AUPs, pode afetar a absorção de nutrientes pelo organismo.
- Substituição por aditivos: A redução de um ingrediente problemático frequentemente leva à sua substituição por outro, que também pode ter efeitos prejudiciais. Por exemplo, a redução de açúcar pode ser acompanhada pelo aumento do consumo de adoçantes não nutritivos, que já foram associados a maiores taxas de mortalidade e problemas hepáticos.
Fortificação
A fortificação de AUPs com ingredientes benéficos, como proteínas e fibras, também é questionada. Assim, embora a fortificação não seja prejudicial por si só, diversos fabricantes a utilizam como justificativa para alegações de saúde que ocultam os potenciais danos do ultraprocessamento.
Segundo Carlos Monteiro, um dos autores da série e desenvolvedor da Classificação Nova, o marketing de AUPs frequentemente utiliza alegações de saúde. Diante disso, se as alegações de saúde incentivam um maior consumo de um alimento que ainda é ultraprocessado, o resultado pode ser prejudicial.
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