Autora: Juliene Duarte é consultora BRQuality.
A inovação na área de alimentos e o desenvolvimento de novos mercados são possibilitados pelo uso dos alimentos como veículo de promoção do bem-estar e da saúde e como redutores de riscos de algumas doenças.
Com a crescente preocupação com a alimentação e a adoção de bons hábitos alimentares, a sociedade percebe gradativamente a importância dos alimentos que auxiliam na promoção da saúde, visando prevenir o surgimento de doenças.
Evidências científicas sobre a relação entre a dieta e a incidência de doenças crônicas, têm destacado o extraordinário potencial dos alimentos para manter ou melhorar o estado de saúde dos consumidores e têm levado ao surgimento de um mercado de alimentos diferenciado e de rápido crescimento nos últimos anos, os “alimentos funcionais”.
O alimento funcional, além de suas funções nutricionais como fonte de energia e de substrato para a formação de células e tecidos, possui em sua composição, uma ou mais substâncias que atuam modulando e ativando os processos metabólicos, melhorando as condições de saúde pelo aumento da efetividade do sistema imune, promovendo o bem-estar das pessoas e prevenindo o aparecimento precoce de alterações patológicas e de doenças degenerativas, que levam a uma diminuição da longevidade.
A Legislação para Alimentos Funcionais
A portaria n°398 de 30/04/99, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde fornece a definição de Alimento Funcional: “Todo alimento ou ingrediente que, além das funções nutricionais básicas, quando consumido como parte da dieta usual, produz efeitos metabólicos e/ou fisiológicos e/ou efeitos benéficos à saúde, devendo ser seguro para consumo sem supervisão médica”.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em 1999 publicou duas resoluções relacionadas aos alimentos funcionais:
- Resolução n°18, de 30/04/1999 (republicada em 03/12/1999): aprova o regulamento técnico que estabelece as diretrizes básicas para análise e comprovação de propriedades funcionais e/ou de saúde alegadas em rotulagem de alimentos.
- Resolução n°19, de 30/04/1999 (republicada em 10/12/1999): aprova o regulamento técnico de procedimentos para registro de alimento com alegação de propriedades funcionais e ou de saúde em sua rotulagem.
O papel dos microrganismos probióticos no nosso organismo
Quando probióticos ou prebióticos são incorporados nos alimentos como parte do processo de produção ou como aditivos, geram alimentos funcionais.
Dentre uma série de definições usadas para os probióticos, a mais aceita é a proposta pela FAO/OMS: “microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro”. Ou seja, são bactérias benéficas que vivem no intestino e melhoram a saúde geral do organismo, trazendo benefícios como facilitar a digestão e a absorção de nutrientes, e fortalecer o sistema imunológico.
A suplementação da dieta com probióticos pode assegurar o equilíbrio ao intestino humano e assim desempenhar papel fundamental na nutrição.
Embora a composição da microbiota intestinal seja estável em indivíduos saudáveis, ela pode ser alterada por diversos fatores, como a dieta, os antibióticos, as doenças, o estresse, as drogas, a quimioterapia, o estado fisiológico, o envelhecimento, entre outros. Quando a flora intestinal está em desequilíbrio o intestino acaba sendo povoado por bactérias “do mal”, que desestabilizam o sistema imunológico e deixam o organismo susceptível a doenças. Esse desequilíbrio pode gerar infecção bacteriana podendo levar a diarreia, inflamação da mucosa, desordem de permeabilidade e ativação de carcinógenos no conteúdo intestinal. Por outro lado, quando esta microbiota intestinal está em equilíbrio, evita que microrganismos potencialmente patogênicos exerçam seus efeitos maléficos.
Os alimentos probióticos
A introdução de culturas probióticas em alimentos está de encontro com o esforço da tecnologia para acompanhar os novos conceitos de nutrição otimizada. Cada dia mais, há no mercado novos produtos alimentícios que além de elevada qualidade nutricional, possuem alegações funcionais, e, em especial, veiculados com probióticos.
Produtos lácteos probióticos têm sido largamente explorados pela indústria e pelos pesquisadores devido ao seu apelo de alimento benéfico à saúde com a sua demanda crescendo continuamente.
Entre os diversos gêneros que integram o grupo dos microrganismos probióticos, destacam-se Bifidobacterium e Lactobacillus que têm sido os mais utilizados em alimentos com alegação de propriedades funcionais e ou de saúde.
Os produtos lácteos como leites fermentados, bebidas lácteas fermentadas ou não, queijos, petit suisse e sobremesas lácteas produzidos com bactérias probióticas representam o mais importante segmento de alimentos funcionais, que além de fornecerem nutrição básica, promovem a saúde. Os alimentos mais comuns veiculados com probióticos são os leites fermentados e os produtos infantis.
O potencial desse tipo de alimento é importante para promoção da saúde. No entanto, é necessário ressaltar que seu efeito não é de cura, eles se limitam a promoção da saúde e não a cura de doenças.
O Kefir como alimento probiótico natural
Intitulado o alimento do momento e como representante dos alimentos probióticos, temos a boa fama do kefir: um alimento probiótico natural, composto por grãos de consistência gelatinosa e irregulares, que podem ser cultivados em leite, água com açúcar mascavo ou sucos de frutas. Nesta estrutura do kefir, atua uma associação simbiótica de leveduras (fermentadoras de lactose e leveduras não fermentadoras de lactose), bactérias ácido-láticas, bactérias ácido-acéticas, entre outros microrganismos.
O kefir é um super probiótico com inúmeras ações benéficas no nosso organismo e, especialmente, na nossa imunidade.
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