Lactose e saúde: o que precisamos saber

 

Como todos já sabem, lactose é o açúcar do leite. O leite produzido por todas as espécies de mamíferos tem lactose, em maior ou menor quantidade. Esse açúcar não é encontrado na natureza em nenhum outro alimento, apenas nos leites. Podemos inferir que se está no leite, deve ter um bom motivo. E tem sim; mais de um. Além de fornecer energia (como todos os açúcares) a lactose tem sabor levemente adocicado aprimorando o sabor do leite.

Especificamente no leite materno, a lactose junto com outros açúcares presentes em pequenas quantidades ajuda no estabelecimento de uma microbiota saudável no intestino dos bebês. Outro papel importante deste açúcar é de ajudar na mielinização dos neurônios (ou seja, revestimento das células do tecido nervoso), o que é fundamental para o cérebro em formação. Nesta perspectiva deve ser considerada a real necessidade de se optar pelo uso de fórmulas infantis sem lactose. Desta forma, a rotulagem de um produto para bebês contendo a informação “sem lactose”, não indica que se trata de um produto superior, mas sim, de um produto adequado para bebês com uma necessidade especial de não consumir esse açúcar.

Entrando no território da alimentação dos adultos, temos observado um modismo em torno da redução do consumo de lactose, sendo produtos isentos de lactose percebidos como mais saudáveis. Por esse motivo a lactose tem sido banida por muitas pessoas, até mesmo quando adotam dietas para redução de peso. Porém, quando se faz opção por um produto lácteo deslactosado, isso não significa dizer que a lactose foi removida do produto, mas em geral ela foi hidrolisada (quebrada em duas moléculas menores). Essa quebra é o suficiente para não gerar problemas de desconforto para intolerantes à lactose, mas do ponto de vista energético, a quebra da lactose não reduz calorias do alimento. Além da quebra da lactose não mexer no valor calórico, o consumo de produtos com lactose hidrolisada pode ser prejudicial para pessoas com diabetes. Isso porque quando a lactose é quebrada libera glicose e galactose (os dois açúcares que fazem parte de sua molécula) e a glicose é rapidamente absorvida e liberada na circulação sanguínea gerando um pico (pico glicêmico) maior do que quando se consume produto com lactose intacta. É o que chamamos de “subir o açúcar no sangue”, o que precisa ser evitado em diabéticos.

E tem mais… Dietas totalmente isentas de lactose podem depois de um longo tempo levar a uma temporária intolerância à lactose em pessoas que anteriormente não tinham essa limitação.

É importante também esclarecer que além da intolerância à lactose, existem desordens genéticas relacionadas ao metabolismo da galactose (liberada na quebra da lactose). Tais desordens são raras, mas extremamente graves e para esses casos mesmo produtos chamados “zero” lactose não são indicados, porque, conforme acabamos de ver, “zero” não significa que a lactose foi tirada, mas sim que ela foi quebrada e ao ser quebrada, deixa de ser lactose, mas glicose e galactose são liberados.

Assim sendo, existem situações que demandam quebra de lactose (parcial ou total) dependendo do nível de intolerância; e casos extremos que exigem exclusão da galactose também. A indústria de alimentos está em busca de oferecer produtos conforme as necessidades dos consumidores. Há pouco tempo atrás tínhamos apenas leite com redução de cerca de 90% de lactose, hoje temos diversas opções de derivados e com quebra total deste açúcar. Quem sabe no futuro se encontrem também produtos com zero galactose.

Embora as pessoas gostem de seguir modas e tendências, quando o assunto é alimentação deve haver um especial cuidado, para não haver prejuízo para saúde, nem para o bolso.

 

Autora: Adriane Elisabete Antunes de Moraes 

Publicado no Milkpoint

Edição: 18 fev. 2016

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