Prednisolona e cefapirina atuam sinergicamente no tratamento de mastite

 

Atualmente, vários protocolos terapêuticos são recomendados para o tratamento de mastite causada por E. coli. Contudo, o uso de antimicrobianos para o tratamento de infecções intramamárias (IIM) causadas por patógenos gram-negativos ainda é controverso. Alguns estudos prévios relataram a inexistência de efeitos benéficos do tratamento com antimicrobianos para casos de mastite clínica causada por E. coli, e portanto, não recomendam o tratamento de casos de grau leve a moderado devido à duração normalmente curta e auto-limitante da inflamação causada por bactérias gram-negativas. Sendo assim, alguns protocolos terapêuticos atuais não incluem o uso de antimicrobianos em casos de mastite causada por coliformes, exceto em casos clínicos graves e com presença de febre. Contrariamente, outros estudos relataram eliminação mais acelerada de bactérias causadoras de mastite, aumento da taxa de sobrevivência das vacas, redução da reação inflamatória na glândula mamária e redução de perdas de produção de leite com uso de antimicrobianos.

A mastite causada por E. coli, particularmente em casos graves com envolvimento sistêmico, está associada com alta concentração de citocinas na glândula mamária. Citocinas são moléculas formadas por pequenas proteínas ou peptídeos, que regulam a duração e a intensidade da resposta inflamatória desencadeada pelo sistema imune da vaca. Estudos relataram que o uso de anti-inflamatórios esteroides em combinação com antimicrobianos pode amenizar os sintomas clínicos desencadeados pela mastite causada por coliformes.

Resultados de um estudo recente indicam que a aplicação de dexametasona por via intramuscular após desafio experimental intramamário com E. coli reduziu os sinais clínicos locais da inflamação e manteve a motilidade ruminal de vacas durante a fase aguda da mastite. Além disso, as vacas tratadas com dexametasona apresentaram neutropenia diminuída e menor redução da produção de leite aos 14 dias após a infecção bacteriana.

Os efeitos anti-inflamatórios dos corticosteroides são mediados pela indução ou repressão da expressão de genes. A produção de citocinas por células inflamatórias é inibida pela inativação de fatores de transcrição presentes nas células. Devido à inibição desses fatores, os componentes da resposta inflamatória, os quais incluem a ativação e recrutamento de células de defesa (eosinófilos, basófilos e linfócitos), são inibidos, bem como a liberação de citocinas e mediadores inflamatórios. Desta forma, a produção de citocinas é inibida em larga escala pela ação de corticosteroides.

A terapia combinada de um agente antimicrobiano com um anti-inflamatório corticosteroide para o tratamento de mastite causada por coliformes é um protocolo bastante utilizado em países onde o uso de tais produtos é permitido. No entanto, o efeito da terapia combinada sobre a resposta imune local de vacas ainda não está totalmente esclarecido. Um estudo recente realizado pela Universidade Cornell, EUA, avaliou o efeito da terapia intramamária com prednisolona (anti-inflamatório corticosteroide), em combinação com cefapirina (antimicrobiano do grupo das cefalosporinas) sobre a dinâmica da resposta inflamatória de vacas com mastite causada por E. coli.

Seis vacas da raça Holandesa no terço médio de lactação foram desafiadas por meio de infusão intramamária de uma cepa de E. coli causadora de mastite. Após diagnóstico da infecção intramamária, as vacas foram tratadas às 4, 12, 24 e 36 horas com 300 mg de cefapirina em um dos quartos e uma combinação de 300 mg de cefapirina e 20 mg de prednisolona nos outros dois quartos mamários. Um dos quartos mamários foi submetido à infusão intramamária de E. coli, porém, não recebeu qualquer tipo de terapia intramamária. Os escores clínicos, contagem de células somáticas (CCS) e escores de CMT, bem como os níveis de citocinas (IL-1β, IFN-γ, IL-4, e IL-10) e o crescimento bacteriano no leite (cultura microbiológica) foram avaliados a cada seis horas. Quarenta e oito horas depois de diagnosticada a mastite, as vacas foram eutanasiadas para coleta de tecido mamário.

Todos os quartos mamários com mastite causada por E. coli e que não receberam tratamento com antimicrobiano apresentaram aumento das concentrações de todas as citocinas avaliadas, com consequente aumento da contagem de neutrofilos polimorfonucleares (células de defesa). A administração de cefapirina, independentemente da combinação com prednisolona, reduziu o crescimento bacteriano, e consequentemente, reduziu as concentrações de citocinas na glândula mamária. O nível de recrutamento de células de defesa foi mais baixo em quartos tratados com cefapirina combinada com prednisolona, seguido de quartos tratados apenas com o antimicrobiano.

A combinação de cefapirina e prednisolona apresentou efeito sinérgico neste estudo, fato observado pela menor reação inflamatória na glândula mamária e pela redução mais acelerada da CCS e do escore de CMT em comparação ao tratamento apenas com cefapirina. Entretanto, independente do protocolo terapêutico a ser adotado, a decisão de quando e como tratar a mastite causada por E. coli depende da gravidade de cada caso. De forma geral, a resolução de um caso de mastite causada por coliformes será determinada principalmente pela resposta imune de cada vaca no momento e durante a infecção, e não somente pelo patógeno causador ou suas características de patogenia. Deve-se ressaltar que o uso de anti-inflamatório corticosteroide em vacas prenhes no último trimestre de gestação pode causar indução do parto e aborto.

Autores: Tiago Tomazi e Marcos Veiga dos Santos

Fonte: Milkpoint

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