Por: Keli Lima Neves e Natalia Longo Furtado
#alimentoseguroesaudavel
Este ano, em comemoração ao dia nacional da segurança dos alimentos, o guia emitido pela ONU com o tema da comemoração desta data, trouxe um lembrete sobre a DÉCADA DE AÇÃO PELA NUTRIÇÃO (começou em 2016 e segue até 2025), onde são estabelecidos compromissos para uma dieta segura e saudável, segundo a ONU “Todos têm direito ao acesso a alimentos seguros, em quantidade suficiente e nutritivos. Ajudando a manter os alimentos seguros, você contribui para uma melhor nutrição e para a saúde de sua família e comunidade”.
Este trabalho para uma alimentação saudável está diretamente vinculada as Doenças Crônicas Não Transmissíveis.
Nós, profissionais da área de segurança dos alimentos, costumamos falar muito sobre as DTAs – doenças transmitidas por alimentos, que são aquelas vinculadas a contaminações químicas, físicas ou microbiológicas e são responsáveis atualmente por aproximadamente 600 milhões de pessoas doentes por ano em todo mundo e 420 mil mortes. Falamos pouco sobre as DCNT, mas, estamos com uma série de acordos e mudanças ocorrendo em formulações de produtos e rotulagem e precisamos olhar para essas informações e entender o porque de tudo isso, por que deste movimento em função de reduzir quantidade de sal, açúcar, gordura. Porque essa mudança de rotulagem? Será que tudo isso é realmente necessário?
É válido lembrar que passamos por um período de transição epidemiológica, onde podemos observar a substituição entre as primeiras causas de morte saindo das doenças transmissíveis, as infecciosas; pelo agravamento de patologias como doenças cardíacas, derrame cerebral, câncer e diabetes (claro, precisamos abrir um parênteses aqui, em relação a pandemia, no cenário atual esta é a doença responsável pelo maior número de mortes, mas, também sabemos que, pessoas com comorbidades foram mais afetadas).
As DCNT doenças matam 41 milhões de pessoas em todo o mundo todo ano. A doença cardiovascular é a principal causa de morte, sendo responsável por quase metade de todas as mortes por DCNT, causando cerca de 17,9 milhões de mortes a cada ano.
Com base na avaliação global mais recente de doenças relacionadas à dieta, os riscos dietéticos foram responsáveis por 10 milhões de mortes por doenças cardiovasculares entre adultos.
No Brasil, as DCNT correspondem a 72% das causas de morte; as doenças cardiovasculares causaram aproximadamente 30% de todas as mortes prematuras. Em 2010, aproximadamente 19.000 mortes foram atribuíveis à alta ingestão de AGT.
Com este cenário, há uma movimentação da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, a FAO, que busca o aumento da segurança alimentar em todo mundo. Tanto com medidas que buscam a diminuição da fome e desnutrição, quanto que buscam a alimentação saudável.
É sim, é importantíssimo olharmos para os números citados e começar a nos mexer. Acreditamos que as alterações com a nova lei das rotulagens, com a publicação da RDC 249 de outubro de 2020 temos um grande avanço pois dará o poder de escolha ao consumidor com as informações mais claras nos rótulos. E, a mudança de comportamento do consumidor leva à necessidade de inovação do setor produtivo, o que é ótimo, é o que faz a máquina girar.
Além da rotulagem é importante citar o movimento da OMS de banimento da utilização de óleos e gorduras parcialmente hidrogenados até o ano de 2023, e a utilização substitutiva de gorduras ricas em ácidos graxos poli-insaturados e pobres em ácidos graxos saturado. No Brasil já contamos com acordos de ações voluntárias para reformulação destes produtos. Outra oportunidade de inovação para as indústrias.
A meta para redução de sal em 30% no consumo de sódio até 2025 estabelecida pela OMS também é outra perspectiva para inovação. A reformulação destes produtos será de grande contribuição para redução de ingestão de sódio pela população. No Reino Unido, por exemplo, metas voluntárias de alguns fabricantes de alimentos diminuíram a ingestão de sal entre adultos em 15% de 2003 a 2011.
Os acordos voluntários do Ministério da Saúde com o setor produtivo de alimentos por meio de Termos de Compromisso com metas bianuais para redução dos teores de sódio e açúcar em diferentes alimentos com representação da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir), Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados (Abimapi) e da Associação Brasileira de Laticínios – (Viva Lácteos) é um grande passo que nos mostra o comprometimento da indústria com tais modificações e uma grande oportunidade para inovação e melhoramento dos alimentos oferecidos à população.
Vamos abordar separadamente o que tem sido feito para cada um destes tópicos: redução de gorduras trans, sal e açúcar. Acompanhem os artigos por aqui e também nossos podcast.