Peça de R$ 600, casamenteiro, receita de escravos… conheça os queijos curiosos de MG

Muito além do Queijo Minas. Hoje, Minas Gerais tem uma variedade de produtos, que inclui os queijos artesanais e os das indústrias. Entre tantas opções, o queijeiro tem que trabalhar muito até chegar a um queijo que chame atenção e ganhe o paladar dos consumidores.

Nas estradas do Sul de Minas, a equipe do G1 encontrou um Queijo Canastra Real que chega a custar R$ 600 e até queijo que promete casamento. Veja abaixo a seleção de receitas curiosas!

Queijo pra casar

A receita de um queijo com fama de casamenteiro faz sucesso com quem viaja a Cruzília (MG). O queijo que já foi premiado com a medalha de prata em um concurso na França ganhou o nome por uma história inusitada.

“Eu fiz um teste há muitos anos. A moça que estava ajudando a fazer o teste casou e outra pessoa que também estava ajudando casou. Teve uma terceira, quarta, aí o pessoal falou: ‘gente, todo mundo que ajuda a fazer esse queijo casa’”, brinca Luiz Sérgio Medeiros de Almeida, criador da receita.

A fama se espalhou rápido e o produto foi batizado como Queijo Santo Casamenteiro, com direito a uma imagem do Santo Antônio na embalagem.

Como é feito? A base é do queijo Azul de Minas, que leva um blend de fermentos e o fungo “penicillium roqueforti”. O diferencial vem na montagem. O queijo casamenteiro lembra um bolo – a base do queijo azul ganha camadas de massa com nozes, damasco e creme de queijo.

Canastra Real

Um dos queijos mais caros e saborosos produzidos na Serra da Canastra é o Canastra Real. O nome já dá a dica. Ele é o queijo que ‘reina’ entre todos os queijos produzidos na serra. Uma peça chega a custar R$ 600 e seu tempo de maturação varia entre 6 meses e 1 ano.

“É um queijo que tem uma massa muito macia, ele é adocicado, ele lembra o gruyére, o emmental”, diz o presidente da Associação dos Produtores de Queijo Canastra (Aprocan), João Carlos Leite.

“É um queijo que não sofre a ação de fungos, mas sofre a ação de bactérias propiônicas. O jeito de fazer o queijo, o tamanho dele, viabiliza o desenvolvimento das bactérias propiônicas. Essas bactérias consomem o queijo, alterando a sua estrutura bioquímica e produz gases, esses gases dilatam, dando olhaduras”, explica Leite.

Segredo dos escravos

A nova receita do queijeiro Anderson Pereira Maciel está ligada à história dos escravos na região de Cruzília e Carrancas. “Houve uma grande revolta de escravos nessa região. Conversando com alguns descendentes, tivemos uma noção da realidade naquela época. E tinha alguns escravos que tinham o contato nas fazendas, que tinham o contato com o leite”, explica.

Anderson conta que muitos escravos pegavam pequenas quantidades de leite nas fazendas. Levavam para a senzala, onde o leite coalhava naturalmente.

Depois, em formas improvisadas, prensavam a massa, adicionavam sal. A grande sacada era o uso de folhas de árvores, como parreiras e bananeiras, para envolver os queijos.

“Colocava em volta da folha pro dono da fazenda não descobrir que ele tinha aquele alimento extra, porque eles passavam muita fome. Só que como a senzala era um lugar úmido, e um lugar que não tinha luminosidade, aquela massa ganhava um paladar diferente”, detalha o queijeiro.

Sem a receita em mãos, Anderson levou dois anos até chegar a uma receita inspirada neste costume dos escravos.

Por que é diferente? Além de uma mistura de fermentos, o processo de maturação também é importante. Mas a receita não é revelada por Anderson. Com sabor picante, uma versão especial do queijo é embalada em folhas, o que lembra a versão original. O resultado é um visual bem diferente.

Ao natural

Já em Alagoa, algumas queijarias apostam muito mais no processo de maturação do que na fabricação em si. A receita é a tradicional do queijo artesanal do município, feito à base de leite cru com peças entre 1 e 5 kg. Mas a diferenciação acontece depois.

É o que faz o produtor e vice prefeito de Alagoa, Francisco Humberto de Souza Barros, que tem em uma espécie de porão na casa do pai – a sala onde os queijos descansam antes de serem colocados à venda.

“É um queijo com maturação natural, em uma casa de tijolo maciço. Eu deixo ter interferência de fungos, de mofos e até de ácaros depois”, explica.

Com o processo, o queijo ganha uma espécie de casca e um sabor mais forte, mais picante. Para Humberto, a característica agrada mais turistas que vão até a cidade comprar do que os próprios moradores.

“Quando a pessoa é daqui, prefere um queijo fresco, porque é acostumado a comer, é a tradição. A gente vive o queijo. E quando a pessoa é de fora, normalmente eles gostam mais do maturado, porque é um queijo de sabor mais intenso, que assemelha ao sabor mais de um parmesão”, afirma.

Feitos por fantasma?

Tem coragem? A receita do queijo “A Lenda”, também da cidade de Cruzília, é cercada de mistério. Os produtores contam que uma antiga fábrica foi comprada para dar espaço ao novo laticínio que levaria o nome da cidade.

Em um cofre, encontraram uma receita exclusiva, feita com fermentos especiais. O mistério? “Quando os queijeiros decidiram fazer a receita e deixá-la no laticínio durante a noite, encontraram tudo fora do lugar, os queijos estavam em lugares diferentes”, explicou o produtor Luiz Sérgio.

Para eles, ficou clara a história: os mestres queijeiros que já tinham falecido vieram dar aquela ajuda. Hoje, é conhecido como o queijo “feito a quatro mãos” – dos queijeiros vivos e mortos. Claro que tudo não passa de uma lenda.

“A Lenda” é um dos queijos mais diferentes na produção industrial de Cruzília. Tem sabor adocicado, é macio e coberto pela capa preta, que completa o clima de mistério.

Fonte: G1

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