Ao mesmo tempo que faz projeções otimistas para o próximo ano, o presidente executivo João Dornellas aponta a agenda das principais prioridades do setor, entre eles a definição e implementação do novo sistema de rotulagem nacional e a execução do plano de redução de açúcares.
As estimativas para a indústria alimentícia em 2019 são otimistas. Puxada por indicadores econômicos, pelas exportações e pelo mercado interno do país, a aguardada retomada do crescimento tem ambiente favorável para ocorrer no próximo ano. É o que sugere avaliação feita pelo presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA), João Dornellas, em entrevista ao blog Flavors & Botanicals.
Mas isso não significa que não há desafios a serem superados nos próximos meses. A indústria passa por inúmeras transformações a fim de acompanhar as tendências mundiais do setor. Neste sentido, temas como saudabilidade e redução de açúcares por meio de um plano encabeçado pela própria indústria, em parceria com o Ministério da Saúde; o novo sistema de rotulagem nacional em andamento; e ainda investimentos em pesquisa e desenvolvimento também entram na pauta de 2019.
A ABIA espera uma retomada gradual dos indicadores econômicos, puxados tanto pelas exportações, como pelo mercado interno da indústria da alimentação. Alguns números já sinalizam para este crescimento: segundo a associação, no acumulado do ano até o momento (de janeiro a setembro), as vendas reais tiveram alta de 0,67% em relação ao mesmo período de 2017.
“A melhora no poder aquisitivo da população, com inflação controlada e crescimento econômico, poderá incentivar uma taxa de crescimento mais acentuada, podendo, inclusive, superar o desempenho projetado para o PIB brasileiro ano que vem”, prevê Dornellas.
A seguir, o presidente executivo da ABIA faz uma análise sobre as prioridades que devem pautar as indústrias alimentícias brasileiras em 2019, que estão diretamente ligados às novas demandas de consumo e a um cenário de alta competitividade.
1 – Redução de açúcares começa a ser colocada em prática
A preocupação com a alimentação e saúde tem orientado tomadas de decisão de empresas do setor em todo o mundo. No Brasil, não é diferente. E a redução de açúcares se tornou uma das principais pautas atuais. Dornellas afirma que, de forma voluntária, a indústria elaborou um Plano de Redução de Açúcares, em parceria com o Ministério da Saúde, que foi formalizado no dia 26 de novembro deste ano.
A meta é de retirar mais de 144,6 mil toneladas de açúcares de alimentos e bebidas até 2022. Este trabalho prevê a retirada gradual de açúcares de 23 categorias de alimentos industrializados compreendidas em 5 grupos:
- Bebidas adoçadas: refrigerantes, néctares e refrescos;
- Biscoitos: biscoitos doces sem recheio, exceto, biscoitos maria e maisena, biscoitos doces recheados, biscoitos wafers sem cobertura em placas regulares e rosquinhas;
- Bolos e misturas para bolos: bolos sem recheio e sem cobertura, bolo com recheio e sem cobertura e bolo sem recheio e com cobertura, bolo com recheio e com cobertura, mistura para bolo aerado sem inclusões, mistura para bolo aerado com inclusões, mistura para bolo cremoso sem inclusões e mistura para bolo cremoso com inclusões;
- Achocolatados em pó e produtos similares de outros sabores; e
- Produtos lácteos: bebidas lácteas fermentadas, bebidas lácteas não fermentadas prontas para consumo, iogurtes e outros leites fermentados, iogurtes gregos, iogurtes gregos com calda, leite fermentado tipo “yakult” e “petit suisse”.
Segundo o Ministério da Saúde, os biscoitos e produtos lácteos terão os maiores percentuais para redução do alimento, com a meta de retirar 62,4% e 53,9% de açúcar da composição, respectivamente. Para bolos, a meta é de diminuir até 32,4% e, para as misturas para bolos, até 46,1% do teor de açúcar. Já para os achocolatados, a meta de redução é de até 10,5% e para as bebidas açucaradas, até 33,8%.
Participam do projeto 68 indústrias, que representam 87% do mercado de alimentos e bebidas do Brasil.
Dornellas chama a atenção para dados de um estudo sobre o consumo de açúcar no Brasil:
“Vale destacar que, quando olhamos para o consumo de açúcar no Brasil, os dados mostram que os alimentos industrializados são responsáveis por apenas 19,2% do açúcar ingerido pela população. 56,3% é adicionado no preparo final dos pratos, refeições e sobremesas, segundo aponta um estudo da ABIA baseado nas informações da POF-Pesquisa de Orçamentos Familiares/IBGE”.
O executivo reforça também que a indústria tem investido constantemente na evolução de seu portfólio e na inovação dos alimentos para atender às mais diversas demandas dos consumidores. Exemplos disso são os produtos light, diet, com teores reduzidos de açúcares, sódio e gorduras, além das versões sem glúten e sem lactose para públicos com dietas específicas, produtos com adição de fibras e vitaminas.
2 – Ampliação do portfólio de saudabilidade
No sentido de contribuir para uma alimentação mais saudável, a indústria da alimentação tem se mostrado comprometida em promover ações concretas para ajudar a combater a obesidade, com grande investimento na inovação do seu portfólio e adequação às necessidades atuais do consumidor e seu paladar. Para isso, as mudanças passam por alterações no perfil nutricional, porcionamento dos produtos e redução voluntária de sódio, gorduras trans e açúcares.
“Desde 2007, a ABIA tem um Acordo de Cooperação Técnica com o Ministério da Saúde para construir um Plano Nacional de Vida Saudável. Trata-se de uma iniciativa voluntária do setor, que já retirou 310 mil toneladas de gorduras trans dos alimentos e, de forma gradual, 17 mil toneladas de sódio em 35 categorias de alimentos industrializados. Este projeto continua, pois nossa meta é chegar a 28,5 mil toneladas até 2020”, afirma.
3 – Definição e implementação de novo sistema de rotulagem
Um novo sistema de rotulagem nutricional de produtos alimentícios está em processo de debate e vai demandar adequações por parte da indústria daqui em diante.
A Rede Rotulagem, formada por 22 entidades ligadas direta e indiretamente ao setor produtivo de alimentos e bebidas, defende a adoção de um modelo de rotulagem nutricional que oferece ao consumidor brasileiro as informações básicas de que necessita para fazer escolhas alimentares com autonomia e consciência, de acordo com suas características e preferências individuais.
Com esse objetivo, a Rede Rotulagem propõe um modelo no qual as informações nutricionais são apresentadas na parte frontal das embalagens, com destaque para as quantidades de açúcares, gordura saturada e sódio indicadas com base na porção usualmente consumida, e também na porcentagem relativa a uma dieta diária de 2 mil calorias.
Nesse modelo, as informações sobre os nutrientes são reforçadas pelas legendas ALTO, MÉDIO ou BAIXO em letras maiúsculas e a utilização de cores (vermelho, amarelo ou verde) aplicadas sobre fundo branco, para facilitar a legibilidade e a compreensão das informações.
“O modelo foi desenvolvido com base em evidências técnicas, na análise de soluções adotadas em outros países e em revisão bibliográfica realizada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (NEPA), da Unicamp”, explica Dornelles.
O design do novo modelo, apresentado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) durante o recente período de Tomada Pública de Subsídios (TPS), foi criado pela consultoria Malkovich, um dos mais prestigiados estúdios de criação do País. A proposta apresentada pela Rede Rotulagem pretende informar o consumidor e contribuir para sua educação alimentar na direção de uma dieta mais saudável e equilibrada.
“Consequentemente, consideramos equivocados os modelos de alerta que substituem a informação pelo alarmismo e a educação pela tutela do consumidor. Além de pouco efetivos, esses modelos, semelhantes ao adotado no Chile há dois anos, afetam a produtividade da economia, provocam desemprego e prejudicam o intercâmbio comercial entre os países, como evidencia estudo da consultoria GO Associados”, comenta.
O presidente executivo da ABIA destaca que, desde o início do processo de revisão das normas da rotulagem nutricional no Brasil, a Rede Rotulagem desenvolveu, com apoio de entidades, núcleos acadêmicos e especialistas de diversas áreas, estudos e subsídios que consideram essenciais para que a solução a ser adotada no país leve em conta os impactos regulatórios e seja baseada em evidências técnicas e científicas.
4 – Reforço nos investimentos em P&D para mais inovação
A tecnologia e a inovação abrem portas para processos disruptivos e incrementais e permitem um novo olhar para os modos de produção e criação, além de serem essenciais para manter-se competitivo. Hoje, há alimentos que contribuem para a saúde dos olhos, fortalecimento da memória, que ajudam na redução do colesterol e controle da pressão arterial, entre outras iniciativas que sempre estão em evolução.
O segredo disso tudo, segundo Dornellas, está no investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D):
“Diversas empresas investem de forma maciça em centros de P&D, com o objetivo oferecer ao consumidor alimentos seguros e com alto valor nutricional sem abrir mão do sabor, e atendendo a demandas cada vez mais exigentes do consumidor”.
É o investimento crescente na área de P&D que irá garantir a criação de produtos cada vez mais inovadores e alinhados com as tendências mundiais de consumo.
As projeções de retomada de crescimento da economia em 2019 sinalizam para um ano otimista para a indústria alimentícia, mas também desafiador, conforme sinalizou o presidente executivo da ABIA.
A implementação do plano de redução de açúcares, a definição e execução do novo sistema de rotulagem, ampliação dos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação para ampliação do portfólio de saudabilidade, com lançamentos alinhados com as atuais demandas de consumo, estarão na agenda de prioridades das indústrias alimentícias no próximo ano.
Quais destes temas estão contemplados no planejamento da sua empresa para 2019? Como você tem se preparado para enfrentar estes desafios?