Autora: Andréa C. S. Damian – Msc Ciência dos Alimentos
Para qualquer tipo de processamento industrial de alimentos a manutenção das condições higiênico-sanitárias são um requisito essencial para a segurança dos alimentos. Sabemos que a carga microbiana contaminante do produto final é a somatória dos microrganismos presentes na matéria-prima e daqueles que se agregam ao longo das várias etapas do processo, principalmente em função do contato com superfícies e equipamentos, intensidade e condições de manuseio, qualidade da água e do ar, e fatores ambientais diversos, acarretando em produtos acabados contaminados.
Para assegurar a qualidade e segurança dos produtos finais, é fundamental a adoção de programas bem elaborados de higienização e sanitização industrial, estes programas representam um auxílio valioso e podem livrar a sua empresa de situações de recall, recolhimentos e crises que possam impactar a imagem da empresa.
A sanitização é um conjunto de procedimentos higiênico-sanitários visando garantir a obtenção de superfícies, equipamentos e ambientes com características adequadas de limpeza e baixa carga microbiana residual, evitando a recontaminação de ambientes, produtos e superfícies.
A limpeza ou higienização é um componente essencial dos programas de sanitização, e geralmente são efetuadas com o emprego de agentes químicos tais como detergentes, entretanto podem ser utilizadas apenas técnicas mecânicas para tal atividade, tal como o uso de agua, vassoura, entre outros. Já a sanificação compreende a destruição parcial dos contaminantes remanescentes aderidos às superfícies, através do uso de desinfetantes ou sanificantes adequados. Ressaltamos que para uma perfeita sanificação, a higienização é essencial, sendo assim são consideradas operações complementares.
Veremos abaixo algumas definições importantes:
- Limpeza/ Higienização: tem por objetivo principal a remoção de resíduos orgânicos e minerais aderidos às superfícies, constituídos principalmente por proteínas, gorduras, carboidratos e minerais e pode ser definida como o processo de remoção das contaminações visíveis da superfície, podendo ocorrer também uma diminuição significativa da carga microbiana contaminante.
- Esterilização: procedimento em que há a destruição estatística e remoção total dos organismos vivos.
- Desinfecção: procedimento aplicado a objetos inanimados, em que há a destruição de todas as formas vegetativas, exceto esporos bacterianos.
- Sanificação: procedimento aplicado a objetos inanimados, em que há a destruição de microrganismos a níveis considerados seguros.
A eficiência de um programa de sanificação depende, fundamentalmente, da execução adequada da operação preliminar de limpeza, pelos seguintes motivos:
- Os microrganismos remanescentes são protegidos pela matéria orgânica do efeito letal do sanificante;
- A eficiência do sanificante é bastante reduzida pelo contato com a matéria orgânica;
- O uso eventual do calor torna o resíduo remanescente mais fortemente aderido às superfícies;
- Os micro-organismos sobreviventes multiplicam-se utilizando os resíduos aderentes como substrato.
A escolha do sanificante a ser utilizado deve ser precedida de uma análise detalhada, levando em consideração os seguintes aspectos:
- Há legislação pertinente, permitindo o uso do sanificante?
- Qual a toxidade?
- Possui poder corrosivo?
- Tem efeito residual no alimento?
- O eventual efeito residual é desejável?
- Pode ocasionar manchas nas superfícies de equipamentos e utensílios?
- Qual o efeito ambiental e nos efluentes?
- Qual o binômio Custo-benefício?
Segundo Leitão(2007) o sanificante ideal deveria preencher os seguintes requisitos:
- Provocar rápida destruição dos microrganismos contaminantes;
- Ser seguro, atóxico e não irritante aos manipuladores;
- Ser aprovado por órgãos oficiais de registro e fiscalização;
- Ser lavável;
- Sem efeitos prejudiciais aos alimentos;
- Econômico;
- Facilmente doseável e analisável;
- Estável na forma concentrada e em solução;
- Não corrosivo;
- Compatível com outros produtos e equipamentos;
- Ser hidrossolúvel.
Os principais químicos utilizados nos programas de higienização e sanificação são:
Álcalis inorgânico | Hidróxido de sódio, ortosilicato de sódio, metasilicato de sódio, sesquisilicato de sódio, fosfato trissódico, carbonato de sódio, bicarbonato de sódio. |
Tensoativos | Principalmente os aniônicos e não iônicos. Na Tabela 01 estão apresentados alguns tensoativos de uso industrial. |
Polifosfatos | Pirofosfato tetrasódico – N4P2O7, tripolifosfato de sódio – Na5P3O10, tetratostafo de sódio, Na6P4O13; hexametafosfato de sódio – (NaPO3)6. |
Sequestrantes ou quelantes | Polifosfatos de sódio, EDTA, ácido glucínio ou seus sais. |
Agentes de suspensão | Amido, carboximetilcelulose – CMC. |
Inibidores de corrosão | Sulfito de sódio, cromato de potássio. |
Abrasivos | Pedra pomes, sílica pulverizada, lã de ferra (“iron wool”), etc. |
Ácidos | Inorgânicos (clorídrico, sulfúrico, nítrico, fosfórico, sulfamico) ou orgânicos (acético, hidroxi-acético, láctico, glucínio). |
Desinfetantes | Compostos de cloro, isodoros ou amônia quaternária. |
Os procedimentos de higienização industrial, envolvendo a limpeza e sanifização devem obedecer à seguinte sequência de etapas:
- Remoção inicial dos resíduos grosseiros aderentes às superfícies com o uso de escovas, espátulas, etc.
- Enxágue completo de todas as superfícies e pisos, de preferência com água morna, à temperatura oscilando entre 40 – 450C.
- Aplicação da solução de detergente, a frio ou a quente, manual ou mecanicamente. Colocando-se em ordem decrescente de eficiência, as seguintes técnicas de aplicação poderiam ser utilizadas:
- Limpeza sem desmontagem (Cleaning in Place – CIP), com várias alternativas: circulação através dos equipamentos; uso de jatos (bicos) fixos, com pressão variável ou uso de jatos (bicos) móveis.
- Uso de máquinas lavadoras, muito empregadas em cozinhas industriais.
- Limpeza manual, com imersão de utensílios, peças, equipamentos em tanques, seguindo de remoção dos resíduos com escovas.
- Limpeza manual, com auxílio de aspersores de pressão (tipo lava – jato), inclusive com utilização de géis ou espumas.
- Limpeza manual, com auxílio de esponjas, escovas, etc.
- Novo enxágue, visando garantir a remoção completa da solução de detergente, usando, de preferência, água morna (40 – 450C) ou quente (800C).
- Sanifização das superfícies ou equipamentos, por métodos físicos ou químicos. É importante destacar que esta operação deve ser efetuada momentos antes do reinicio da produção, garantindo um curto período de contato do sanizante com a superfície e a ausência de proliferação microbiana no período decorrente entre o final da sanificação e o reinicio do processamento.
- Enxágue final. Esta operação é aconselhável e desnecessária quando se utiliza o sanificante na concentração preconizada.
Programa de sanitização na indústria de alimentos
O programa de sanitização envolve a aplicação ordenada de uma serie de etapas que garantem a máxima eficiência e desempenho do processo. Ele deve ser previamente a execução das seguintes providências:
- Diagnóstico e avaliação completa das instalações a serem sanitizadas;
- Elaboração de normas e especificações para a sanitização de equipamentos e instalações;
- Estabelecimentos de um programa de treinamento para o pessoal encarregado de sanitização;
- Implantação efetiva do programa;
- Acompanhamento da correta aplicação das técnicas de sanitização;
- Monitoramento e auditoria interna do processo.
Métodos de avaliação da eficiência dos procedimentos de sanificação
Estas análises dependem, em muitos casos, de uma avaliação quantitativa da carga microbiana aderente à superfície e remanescente do processo de limpeza inicial e posterior a sanitização.
A metodologia de avaliação da eficácia das atividades de higienização e sanificação pode ser realizada através do monitoramento por swab nos pontos higienizados.
Este post foi apenas para contextualizar a importância da higienização e sanificação, e o quão fundamental elas são para o controle sanitário dos alimentos e para a segurança e a qualidade dos mesmos, evitando assim perdas econômicas, (devido à deterioração e contaminação dos produtos por microrganismos, em especial aos patogênicos), recall, recolhimentos, crises e problemas relacionados à saúde pública.
Referências Bibliográficas
BRASIL. Ministério da saúde. Aprova o Regulamento Técnico sobre “Condições Higiênico-Sanitárias e de Boas Práticas de Fabricação para Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos”. Disponível em: <http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/search.php>. Acessado no dia: 12/09/2017.
LEITÃO, M.F.F. Limpeza e desinfecção na indústria de alimentos. Boletim do Inst. Tecnol. Alimentos – ITAL<43(4), 37p. 2007.