Fonte: Exame
No estudo The State of Food Security and Nutrition in the World, o número de brasileiros que estão sujeitos à insegurança alimentar – ou seja, têm disponibilidade escassa aos alimentos – no Brasil, 21,1 milhões de pessoas lidam com as condições severas desse contexto alimentar. A situação é bastante agravante pois, segundo o estudo, quase 600 milhões de pessoas ainda passarão fome em 2030. Segundo o documento, é preciso priorizar a nutrição infantil, fortalecer as cadeias de abastecimento (do inglês, supply chain) e lidar com a urbanização.
Outro detalhe que sofreu aumento nos últimos anos foram os níveis de fome ao redor do mundo. Essa crescente aconteceu a partir de 2019, de acordo com o estudo. Em 2019, a fome atingia 7,9% da população, o que corresponde a 613 milhões de pessoas, mas no ano passado, o percentual aumentou para 9,2%. Dentre as justificativas para essa crescente estão, primordialmente, as crises, como as consequências econômicas da pandemia do Covid-19 e a indisponibilidade de alimentos por conta da guerra na Ucrânia – que podem atrasar as expectativas para erradicação da fome previstas para 2030.
“Os sistemas agroalimentares continuam altamente vulneráveis a choques e perturbações decorrentes de conflitos, variabilidade climática e extremos, e contração econômica. Esses fatores, combinados com desigualdades crescentes, continuam desafiando a capacidade dos sistemas agroalimentares para entregar dietas nutritivas, seguras e acessíveis para todos. Esses principais impulsionadores da insegurança alimentar e desnutrição é o nosso novo normal”, afirmou o documento.
O relatório contou com o envolvimento da ONU (Organização das Nações Unidas), UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e a FAO Agrifood Economics. Além disso, teve a participação de uma equipe de técnicos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (IFAD), do Programa Alimentar Mundial (PAM) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Durante o ano passado, cerca de 30% da população mundial (por volta de 2,5 bilhões de pessoas) não contaram com acesso constante aos alimentos. Pensando nisso, a premissa do segundo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que busca acabar com a fome em 2030 pode não ser alcançada.
Para isto, é necessário criar alternativas para destacar pontos de atenção regionais, ao mesmo tempo que tenta reverter o aumento da fome em níveis globais. Outros Objetivos relevantes para o contexto são: o ODS 1 (Erradicação da Pobreza), ODS 3 (Boa Saúde e Bem-Estar), ODS 10 (Reduzir as Desigualdades), ODS 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis) e ODS 12 (Consumo Responsável e Produção).
A insegurança alimentar no mundo
O estudo destaca que dos 2,4 bilhões de pessoas que enfrentam falta de acesso constante aos alimentos, enquanto cerca de 900 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar grave. Além disso, o acesso a dietas saudáveis caiu desde o contexto pós-pandemia, quando 3,1 bilhões de pessoas foram impossibilitadas de pagar uma dieta nutritiva em 2021 – o que corresponde a um aumento de mais de 130 milhões de pessoas em comparação com 2019.
As preocupações não dizem respeito apenas à fome. “Em 2022, 2,4 bilhões de pessoas, compreendendo relativamente mais mulheres e pessoas que vivem em áreas rurais, não têm acesso a alimentos nutritivos, seguros e suficientes durante todo o ano. O impacto persistente da pandemia sobre a renda disponível das pessoas, o aumento do custo de uma dieta saudável e o aumento geral na inflação também continuou a deixar bilhões sem acesso a uma dieta saudável e acessível. Milhões de crianças com menos de cinco anos de idade continuam a sofrer de nanismo (148 milhões), emagrecimento (45 milhões) e excesso de peso (37 milhões)”.
Além disso, o relatório revela que 148 milhões de crianças com menos de cinco anos de idade tiveram algum tipo de atrofia relacionada à alimentação e 37 milhões estavam acima do peso em 2022. Apesar das taxas de amamentação exclusiva registrarem progresso, é preciso maior esforço para melhorar as taxas de desnutrição e alinhá-las com as metas para 2030.
Contexto brasileiro
Apesar dos números atuais relevantes, a América Latina teve progresso na redução da fome. O Brasil, por exemplo, teve uma diminuição de dois milhões de pessoas desnutridas, se comparado o período de 2004-2006 com 2020-2022. Também diminuiu o contingente de mulheres atingidas de 15 a 49 anos atingidas por anemia. Em 2012, 10,1 milhões de mulheres tinham anemia mas em 2022, dez anos depois, esse número caiu para 9,2 milhões.
No Brasil, em 2021, o custo de uma dieta saudável estava na casa dos 3.350 PPP dólares (por pessoa por dia), enquanto em 2017, o valor para arcar com alimentação saudável era de 2.809 dólares. Pensando nessa parte financeira, o número de pessoas sem condições para arcarem com alimentação passou de 27,1 milhões em 2020 para 48,1 milhões no ano seguinte.