O Fungo Cordyceps, retratado na série “The Last of Us”, pode tornar hospedeiro um zumbi e causar sua morte, mas não exatamente como na série. O gênero contém espécies com propriedades medicinais.
Fonte: Portal do Butantan
Baseada no game “The Last of Us”, a história da série homônima se passa 20 anos após a quase extinção da humanidade devido a infecção de fungos Cordyceps e a espécie humana é hospedeira do fungo. Na realidade distópica da série, o fungo Cordyceps sofre uma mutação e passa a infectar humanos, que se transformam em zumbis capazes de infectar uns aos outros a cada mordida. Mas quem pensa que este fungo retratado na série é fictício está enganado, ele é muito mais real do que se imagina e pode ser encontrado no Brasil.
Mas que fungo é esse?
O fungo é do gênero Cordyceps sendo, na realidade, um endoparasita de artrópodes, que não chega a contaminar mamíferos, muito menos pessoas. Seus principais hospedeiros são formigas, mariposas e larvas de florestas tropicais, comuns no Brasil. Dentre esse tipo de fungo existem cerca de 400 espécies, que possuem ancestralidades compartilhadas, sendo do grupo polifilético.
Ainda que os humanos não sejam ameaçados pelos fungos, plantas e insetos já são alvos de diferentes espécies parasitas do reino Fungi há muito tempo. Uma das relações mais assustadoras do parasita acontece entre a espécie Ophiocordyceps unilateralis sensu lato e as formigas, caracterizada como contágio com “fungo-zumbi”, a espécie específica que inspirou a história de “The Last of Us”.
O fungo realmente transforma a formiga em um zumbi porque secreta neurotoxinas dentro do animal, que então comprometem o funcionamento dos músculos do inseto, alterando o seu comportamento no formigueiro. Após ser infectada, a formiga fica desnorteada e começa a procurar por locais mais iluminados, e acaba saindo do formigueiro. Nesse processo, ela espalha os esporos do fungo que já tomam o seu corpo. A infecção pelo fungo – com duração de 2 a 5 dias – torna o corpo da formiga todo esbranquiçado, com aspecto semelhante ao mofo. Cheios de esporos microscópicos por dentro e por fora, os membros da formiga começam a ser paralisados por ação das neurotoxinas. Incapaz de se mover, a formiga morre e os resíduos de seu corpo inerte continuam sendo úteis como alimento para o fungo.
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‘Fungo-zumbi’
O Ophiocordyceps unilateralis, também conhecido como “fungo zumbi”, foi descoberto pelo naturalista britânico Alfred Russel Wallace em 1859, e atualmente é encontrado predominantemente em florestas tropicais, como na Amazônia. Ele infecta formigas-carpinteiras (Camponotus cruentatus) que se alimentam de fungos e vivem em locais quentes e úmidos, ambientes que facilitam sua proliferação. Esta relação entre o fungo O. unilateralis e a formiga é fruto de um longo processo de evolução, e indica que o inseto carrega as condições necessárias para o fungo sobreviver.
Benefícios dos fungos
Vale ressaltar que nem todos os fungos são ameaçadores para as espécies, possuindo um papel muito importante no meio ambiente, chegando a fornecer benefícios para a natureza.
A Ophiocordyceps sinensis, outra espécie do gênero Cordyceps, possui especificidades populares em tratamentos na medicina tradicional chinesa. E o aclamado fungo-zumbi, pode ser utilizado em suplementos médicos e é encontrado em estudos sobre o câncer de olho, com a particularidade de retardar o avanço do tumor. Muitas outras espécies, de distintos gêneros de fungos, fazem parte da natureza que nos cerca e até mesmo do nosso corpo, agindo de forma inofensiva.