Equipe MOOVA e Keli Lima
Você sabe o que são os perigos radiológicos e como eles podem afetar os alimentos? Os perigos radiológicos são aqueles oriundos de radionuclídeos que podem estar relacionados com os alimentos, expondo as pessoas a contaminação com compostos radiológicos e gerando efeitos adversos à sua saúde.
Tais efeitos dependem do radionuclídeo e do grau de radiação na qual a pessoa foi exposta. Porém, a forma mais comum de contaminação por perigos radiológicos é através do uso de água com presença de radionuclídeos na produção ou manufatura do alimento (o que está também relacionado a regiões específicas e que passaram por situações de acidentes ambientais envolvendo usinas nucleares).
A preocupação com os perigos radiológicos nos alimentos surgiu em 1986, quando o acidente na usina nuclear de Chernobyl (localizada na antiga URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, especificamente na Ucrânia) fez com que ocorresse uma precipitação de radionuclídeos em uma vasta área da Europa e da Ásia, causando graves perturbações na produção e no comércio de produtos alimentícios.
Como a radioatividade pode contaminar os alimentos
Ocorrência natural: A população em geral está exposta diariamente à radiação natural, que vem do espaço (raios cósmicos) e materiais radioativos que ocorrem naturalmente no solo, na água e no ar. A radioatividade natural das rochas e minerais presentes no solo pode ser transferida para as lavouras.
A água potável ou água mineral pode absorver a radioatividade natural da Terra, e os peixes e frutos do mar, por exemplo, podem capturar radioatividade da água do mar ou do solo marinho, por isso, frutos do mar são os alimentos com radiação natural mais concentrada.
A maioria dos elementos radioativos naturais têm sua origem na crosta terrestre. Alguns elementos como o Potássio-40 (K-40), Urânio-238 (U-238) e Tório-232 (Th-232) são elementos radioativos primitivos, ou seja, estão presentes desde a formação da Terra.
Acidentes nucleares: Acidentes como os ocorridos de Chernobyl e Fukushima podem gerar inúmeros prejuízos uma vez que, os alimentos podem ser contaminados com materiais radioativos. Dessa forma, a superfície de alimentos como frutas e legumes ou alimentos para animais pode se tornar radioativa devido à deposição de materiais radioativos do ar ou da água da chuva.
Os radionuclídeos passam pela cadeia de produção de alimentos da mesma forma que a radioatividade natural. Com o tempo, a radioatividade também pode ser detectada nos alimentos porque os radionuclídeos são passados do solo para a colheita, através das raízes, e das plantas para os animais.
Quais são os efeitos da radioatividade no corpo?
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os perigos radiológicos raramente ocorrem na cadeia produtiva de alimentos. No entanto, quando aparecem, estes perigos podem representar um risco significativo se a exposição a eles acontecerem durante certo período de tempo.
O consumo de alimentos contaminados com radionuclídeos aumentam a quantidade de radioatividade à qual a pessoa é exposta, o que pode gerar efeitos negativos à saúde. Estes efeitos dependem do radionuclídeo e da quantidade de radiação à qual a pessoa for exposta. Por exemplo, a exposição a certos níveis de iodo radioativo está associada com um aumento no risco de surgimento de câncer da tireoide.
Além disso, a radiação pode provocar efeitos agudos, como vermelhidão da pele (eritemas), queda de cabelo e síndrome de radiação aguda, que inclui sintomas iniciais como náuseas, vômitos, dor de cabeça e diarreia, podendo chegar com o tempo a uma perda de apetite, fadiga e possivelmente convulsões e coma.
Perigos radiológicos em alimentos no Brasil
No Brasil, até o momento, não há legislação ou referências nacionais específicas para níveis máximos permitidos de contaminação radioativa em alimentos. Porém, para a água de consumo humano, a Portaria GM/MS Nº 888 do Ministério da Saúde do Brasil traz, no Art. 37 que “Os níveis de triagem usados na avaliação da potabilidade da água, do ponto de vista radiológico, são os valores de concentração de atividade que não excedam 0,5 Bq/L para atividade alfa total e 1,0 Bq/L para beta total.”
Saiba mais sobre a Portaria GM/MS Nº 888.
Qual é a diferença entre irradiação e contaminação radioativa?
Uma contaminação, radioativa ou não, caracteriza-se pela presença de um material em local indesejável. Elementos radioativos são aqueles cujos átomos são capazes de emitir radiação (alfa, beta e gama) de forma espontânea a partir de seus núcleos instáveis.
Já a irradiação é a exposição de um objeto ou um corpo à radiação, o que pode ocorrer a alguma distância, sem necessidade de contato.
Como evitar os perigos radiológicos nos alimentos?
A primeira medida é garantir a potabilidade da água utilizada na fabricação do alimento, seja de uso direto (por exemplo, como ingrediente) ou indireto (por exemplo, para limpeza).
O FDA (Food and Drug Administration) frisa que a vigilância da qualidade da água do ponto de vista radiológico é particularmente relevante se a empresa usa água proveniente de poços artesianos. Caso os níveis radiológicos ultrapassem o que está definido na legislação, o consumo deve ser vetado.
Saiba a origem das suas matérias primas, ingredientes e materiais que entram em contato com os alimentos para que você consiga identificar possível produção em áreas já estabelecidas como áreas de risco.
Implemente o Programa de Food Defense, para evitar contaminações maliciosas.
O que é Irradiação de alimentos? O processo de irradiação deixa o alimento radioativo?
Segundo a Comissão Nacional de Energia Nuclear, a tecnologia de irradiação de alimentos, aprovada pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e utilizada em 37 países, é um método eficaz para melhorar a qualidade de produtos alimentícios.
Esse processo é utilizado em frutas frescas, grãos e vegetais para prevenir o brotamento, retardar a maturação e aumentar o tempo de conservação, uma vez que os alimentos são submetidos a uma quantidade minuciosamente controlada de radiação.
Porém, a irradiação não faz com que o alimento se torne radioativo, e nem compromete a qualidade nutricional ou altera de forma notável o sabor, textura ou aparência do alimento. Dessa forma, qualquer modificação feita pela irradiação é tão pequena que não é fácil dizer se o alimento foi irradiado.
No Brasil, a resolução da Diretoria Colegiada-RDC nº 21, de 26 de janeiro de 2001, regulamenta técnicas com o objetivo de estabelecer os requisitos gerais para o uso da irradiação de alimentos com vistas à qualidade sanitária do produto final. Clique aqui para saber mais
Lembrando: nos rótulos dos alimentos irradiados deve constar a frase “ Alimento tratado por processo de irradiação”.
De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a Embrapa começou a pesquisar essa tecnologia na década de 1980, demonstrando a eficiência do uso da irradiação em alimentos. O uso de radiação ionizante ainda é uma opção com menor impacto ambiental, pois não deixa resíduos.
Segundo dados da FAO, os alimentos irradiados mantêm suas propriedades nutricionais e sensoriais e não apresentam riscos toxicológicos, radiológicos ou microbiológicos para o consumo humano.
O plano APPCC para a segurança
No plano APPCC, os produtos provenientes de locais onde o solo, a água ou o ar estão contaminados por radionuclídeos, componentes de radionuclídeos e possíveis materiais de embalagem são geralmente considerados como fontes potenciais de riscos radioativos. Portanto, é muito importante entender a origem dos materiais adquiridos e a qualidade da água utilizada no processamento.
Do ponto de vista do APPCC e controles preventivos, a necessidade de identificar os perigos radiológicos iniciou-se pela exigência da FSMA – Food Safety Modernization Act (Lei de Modernização da Segurança de Alimentos), publicada em 2011 pelo FDA (Food and Drug Administration), órgão responsável pela regulamentação e fiscalização de alimentos nos Estados Unidos.
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